*Este vai para todas as pessoas... Exceto para o meu filho.
Há anos venho me povoando das mais diversas pessoas, guardando todas dentro de mim. Alimentando-as com minhas emoções e sentimentos. Bons ou ruins, decerto. Amores que deveria ter odiado, paixões que não deveriam ter perdurado, amigos que traduziram inimizades. Todos eles fincados dentro de mim, com extensas raízes. Cada pessoa, uma marca. Indelével. Pessoas que eu quis demais. Pessoas por quem senti tudo demais. Pessoas nas quais investi demais. Homens à quem ofertei meus sentimentos mais íntimos me retribuíram com as mentiras mais doces. Amigos nos quais tanto busquei me fortalecer, ocultaram-se quando eu mais precisava. Estavam envolvidos demais com suas alegrias e prazeres para atentarem para a minha solidão constante. Sim, me felicitava vê-los felizes, mas eu precisava apenas sê-lo um pouco também. Muitas foram as vezes em que precisei tanto falar e me faltaram ouvidos. Muitas foram as vezes em que precisei de um beijo verdadeiro e só encontrei homens com mentira nos lábios. É triste sentir-me fadada à uma busca incessante por pessoas que não me machuquem mais. É tão desesperador sentir-me só, que, consequentemente, me torno pouco ou quase nada seletiva no que concerne às pessoas com quem me envolvo. E acabo dando muito mais de mim do que recebo do outro. Esta desigualdade de dedicação e cumplicidade me tortura dia a dia, mas, como numa espécie de dependência emocional, eu não consigo me desvencilhar e sempre dou proporções gigantescas às minhas relações, sejam amorosas ou de amizade. A questão é que estou farta de ter as minhas alegrias roubadas, a minha felicidade abortada. Estou farta de tanta mentira e deslealdade. Estou farta de tantas ausências. Estou farta de atrair e me sentir atraída por pessoas que não servem pra mim. Talvez eu não sirva pra elas também, Não sou perfeita mesmo, nem chego perto de ser. Mas cada um com seus conceitos de contentamento. Eu estou muito descontente com quem está ao meu lado. Estou, mais que isso, descontente comigo mesma por mantê-las por tanto tempo ao meu lado e por dar-lhes a importância que elas não inspiram, na realidade. Detesto ser sentimentalista ao extremo. Minhas sentimentalidades e carências me fazem marionete dos outros. Da vida. Parece que caminho sempre em trajetória oposta à que deveria. Parece que estou sempre sendo sabotada pelos outros e por mim. Eu e os outros somos meus inimigos ocultos, fantasiados de bons moços, boas moças. E minha vida segue com dias em preto e branco, os quais tento borrar com alguma corzinha pra que não me olhem com dó. Para que não me apontem como aquela moça para quem nada dá certo. Sim, porque vejo pessoas más vivendo bem e pessoas do bem encontrando o mal. Parece que está tudo em desordem de merecimento. Se eu mereço o bem? Bom, eu acho que sim. Eu não sou uma pessoa tão má assim. Eu posso fazer bem, eu sei. Quando tenho à quem. Não quero contabilizar relações desastrosas. Porque, certas marcas, tempo algum leva embora. E o acúmulo delas pode nos tornar irremediavelmente incapacitantes. Não quero perder a capacidade de acreditar nas pessoas e amá-las, embora isto já esteja defasado em mim. O que eu preciso é de pessoas afáveis. Dentro e fora de mim.
Lai Paiva