5 de setembro de 2015



Então o amor é isso. Esse abismo antipoético entre a paz e a saudade aflitiva. Essa ausência invencível. Essa dor tão boa de sentir. Essa solidão avolumada pela distância. Essa vontade de esvaziar-se ao mesmo tempo em que se transborda de lembranças quentes e pulsantes. E amar consiste nessa insanidade linda e corrosiva.
Então o amor se escreve com mais de quatro letras e sua pronúncia transita entre uma doce melodia e uma angustiante memória. Há o desejo imensurável de voltar a vivê-lo, lutando para engolir a sã consciência de que é melhor mata-lo dentro de si.
Então o amor é mais do que era quando ele estava aqui. É o que resta de quem fica. O detalhe mais gritante, em cada lugar que se vá. O cheiro que persiste. O gosto intravenoso. O silêncio que isola do mundo externo. As canções que foram escolhidas a dois. As palavras recrutadas para acarinhar com precisão. A perda de grande parte de tudo.
Então o amor é o maior risco a se correr. A pequena morte diária de quem ama. O acerto mal calculado. A tristeza mais afável. A inspiração insensata. A esperança nascida em vão.
Então o amor é, sobretudo, esse desespero secreto que ninguém pode colher nos olhos de quem o sente. E torna tudo impossível depois que chega. E tudo inútil depois que se vai...




Lai Paiva

4 comentários:

  1. Talvez o amor seja isso mesmo que diz

    "um desespero secreto"...

    Mas gostei desse dissertar, acerca do amor e de sua incoerência.

    Maria Luísa

    "os7degraus"

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  2. Maria Luisa, muito obrigada pela apreciação. Beijo

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